Sessão Entrelivros: as ficções de Borges



Rafael Nunes Ferreira

Na sessão Entrelivros, apresento sempre uma obra que já li ou estou lendo, trazendo alguma informação acerca dela e selecionando alguma passagem para ilustrá-la. Nessa primeira sessão, indico a obra Ficções (1944), do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). A impressão que fica, ao ler Ficções, é que Borges nos coloca num labirinto de espelhos que nos leva a refletir, profunda e filosoficamente, algumas questões existenciais que há dentro de nós: o livro é uma chave para a imaginação. Mas ao leitor desatento sugiro cuidado, pois a escrita labiríntica de Borges às vezes nos deixa indigestos e atônitos. No entanto, seu engenho extasia-nos, pondo-nos em estado de transe e perplexos a cada ficção que nos proporciona nesse banquete literário borgeano.


***

FICÇÕES, lançado originalmente em 1944 pelas Ediciones Sur, ligadas à revista de mesmo nome criada por Victoria Ocampo, onde havia sido publicada a maioria desses contos é a obra que trouxe o reconhecimento universal para Jorge Luis Borges, graças, entre outros motivos, ao caráter fora do comum de seus temas, abertos para o fantástico, e à inesperada dimensão filosófica do tratamento. O livro, em sua versão atual, reúne os contos publicados em 1941 sob o título de O jardim de veredas que se bifurcam (com exceção de A aproximação a Almotásim, incorporado a outra obra) e outras dez narrativas com o subtítulo de Artifícios. Nesses textos, o leitor se defronta com um narrador inquisitivo que expõe, com elegância e economia de meios, de forma paradoxal e lapidar, suas conjeturas e perplexidades sobre o universo, retomando motivos recorrentes em seus poemas e ensaios desde o início de sua carreira: o tempo, a eternidade, o infinito. Os enredos são como múltiplos labirintos e se desdobram num jogo infindável de espelhos, especulações e hipóteses, às vezes com a perícia de intrigas policiais e o gosto da aventura, para quase sempre desembocar na perplexidade metafísica.


***

O milagre secreto

“Logo refletiu que a realidade não costuma coincidir com as previsões; com lógica perversa inferiu que prever um detalhe circustancial é impedir que este aconteça” (p.138). [...] “Recordou-se de como os sonhos dos homens pertencem a Deus e que Maimônides escreveu que são divinas as palavras de um sonho, quando são distintas e claras e não se pode ver quem as disse” (p.143).


O fim


“Há uma hora da tarde em que a planície está a ponto de dizer alguma coisa; nunca o diz ou talvez o diga infinitamente e não o entendamos, ou entendamos mas é intraduzível como uma música” (p.155).


Referências:

BORGES, Jorge Luis, [trad.] JR. Davi Arrigucci. Ficções. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

2 Response to " "

  1. Paula: pesponteando says:
    27 de junho de 2009 às 16:46

    vou ver se consigo este livro p ler...paarece ser bem interessante...abraços

  2. Era Ana Paula, agora é Natasha. E Carolina é uma menina bem difícil de esquecer. says:
    29 de junho de 2009 às 10:20

    QUANDO FUI PRA BUENOS AIRES VISITEI UMA EXPOSIÇÃO EM HOMENAGEM AO JORGE L. BORGES, COM FOTOS, ESCRITOS, OBRAS...BEM LEGAL. FOI LÁ QUE CONHECI ESTE GRANDE ESCRITOR.

    BEIJÃO RAFA! TE ADORO!

Postar um comentário