Tópicos sobre clássicos da literatura ocidental:
O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes Saavedra

Rafael Nunes Ferreira
Universidade Federal do Pampa

Retomando o conceito de paródia: do grego paroidía, para, oidê, contra-canto, canto paralelo, pelo latim, parodia. Segundo Massaud Moisés, em seu Dicionário de termos literários, a paródia designa toda composição literária que imita, cômica ou satiricamente, o tema e/ou a forma de outra obra, com a finalidade de ridicularizar uma tendência ou um estilo que, por qualquer motivo, se torne apreciado ou dominante. Conforme o sentido do prefixo “para”, a parodia pode conter oposição (contracanto) ou ser uma obra criada à semelhança da outra (canto paralelo). Apresenta uma intenção negativa no primeiro, e torna-se positiva no segundo.

O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha é um exemplo clássico no que se refere à parodia acerca das novelas de cavalaria medievais, de carácter místico e simbólico, que narram aventuras penetradas de espiritualidade cristã e subordinam-se a um ideal místico.

Na obra de Cervantes, a cena em que Dom Quixote ataca alguns odres de vinho, achando que está a duelar contra gigantes, é exemplar no que se refere aos episódios fantásticos em que o cavaleiro retratado nas novelas de cavalaria originais, vence gigantes com apenas um lance de espada, ou quando, sem se cansar, derrota, sozinho, um exército inteiro, como podemos observar parodiado em outro momento, quando o velho fidalgo confunde um rebanho de ovelhas com um exército inimigo.

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No capítulo XIX do primeiro livro, Sancho atribui um codinome ao seu amo, dando a Dom Quixote o apelido O Cavaleiro da Triste Figura, decorrente do aspecto que possuía o velho fidalgo naquele momento. O título sustenta-se à medida que, ao transcorrer das aventuras do cavaleiro andante, suas façanhas acabam tendo, muitas vezes, um desfecho infeliz, como, por exemplo, no capítulo XXII, intitulado Da liberdade que deu Dom Quixote a muitos infelizes, que, contra a sua vontade, eram levados aonde quereriam ir, também do primeiro livro, em que Dom Quixote, ao libertar doze homens que seguiam escoltados e algemados, condenados pelos seus crimes a servirem El-Rei, acaba recebendo como recompensa uma chuva de pedradas que deixam o fidalgo “desgostoso por se ver tão maltratado pelos mesmos a quem tamanho bem fizera.”

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Segundo Otto Maria Carpeaux, em História da Literatura Ocidental, Cervantes utilizada uma estratégia narrativa que se vale do contraste, no que ele denomina “método cervantino do contraste”. Para satirizar as novelas de cavalaria, Cervantes faz uso do método de contraste, como podemos notar a partir da figura de algumas das personagens: Alonjo Quijano, um fidalgo cinqüentão e sem força, que se opõe aos cavaleiros andantes, nobres e de forte vigor físico. Sancho Pança, um analfabeto motivado pela recompensa de uma ilha, que contrasta com os jovens de boas famílias, educados e que buscavam o ofício de escudeiro para, posteriormente, sagrarem-se também cavaleiros. Ou, por fim, na princesa Dulcinéia del Toboso, uma camponesa feia e gorda, que contraria muito a imagem das belas princesas dos romances de cavalaria.

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